22.9.14

a breve história do pimento

tenho uma mania.
gosto de ciclos. gosto de me fixar numa árvore, flor, videira, legume, pedaço de vida, ... e observar-lhe o tempo.
confesso que inundo os meus arquivos fotográficos de vários ciclos, evoluções que quero seguir. mas depois esqueço-me de fixar a posição, de levar a máquina ou das definições que usei e fica tudo meio incompleto.
gosto de ver o efeito que a luz das auroras e dos ocasos provoca naquele ponto, naquela folha, naquele ramo. gosto de ver esse mesmo ponto à luz forte de um meio dia de verão, num dia de nevoeiro ou tocado pelo rolar da gota translúcida de um orvalho, de uma chuva de trovada, de uma chuva miudinha.
gosto de tudo isto, e por isso dou por mim a desejar um qualquer mecanismo nos meus olhos, onde bastaria um pestanejar e o momento iria eternizar-se, materializar-se sem filtros no arquivo fotográfico. no lugar das coisas bonitas.
o pestanejar como um clique é algo que me acompanha há imenso tempo. aqueles segundos de tempo em que acontece um sorriso, uma expressão, o acordar, uma folha a cair, o último raio de sol, um pássaro num espelho de água ou o seu alinhamento perfeito num cabo de alta tensão. um barco no ponto de luz do horizonte, as nuvens a envolver o pico de uma montanha, um contorno, uma sombra sem mácula num noite de lua cheia, ou qualquer uma outra coisa irrepetível que está sempre a acontecer.
no entanto, ainda que tenhamos a sorte (ou a capacidade) de a ver, mais cedo ou mais tarde a maior parte vai esfumar-se no canto da memória. ainda que me deixe frustrada, penso: é melhor assim.

já com os pimentos acontece tudo muito rápido. é bom assim.


pimento-flor mini-pimento pimento-colheita pimento-conserva


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