2.9.14

o Tigre Branco


Pode ser pela história (boa ou má), pela mensagem, pela necessidade de despir (ou vestir) uma personagem, para desenhar uma opinião, organizar os factos, catalogar, decidir se (e com quem) vale a pena partilhar ou para tomar uma resolução simples, uma resolução de vida. O tempo de reflexão, o olhar vazio que se segue à última página de um livro é o fim do ritual.

Quando terminei este livro, já não me recordo se foi sentada ou deitada, muito provavelmente fechei-o e descansei as mãos sobre ele, ou só uma porque a outra ficou a segurar o queixo (esta última pressupõe que estaria sentada) e olhei fixamente para alguma coisa. Pode ter sido para um grão de pó, uma cortina esvoaçante, ou um raio de sol, não sei. Mas, certamente que durante uns minutos se achou a coisa mais importante da divisão (quarto, cozinha, sala, sótão? não sei). Refleti sobre duas coisas: a história e o que me levou até ela.
A primeira é fácil, é um livro interessante. Mais um a tentar retratar a Índia, mas de um modo ligeiramente diferente. O lado negro da Índia narrado num tom mordaz, sarcástico. No fim não se sente pena, nem tristeza, nem fascínio ou deslumbramento, nem todo o tipo de coisas que as pessoas gostam de sentir em relação à Índia. Tem as suas incongruências próprias da ficção, mas ainda assim, é um livro interessante.

O que me levou à história obrigou-me a recuar à feira do livro de Coimbra. No meio de tantos livros fui imediatamente atraída para ele. Poderia dizer que o escolhi porque conhecia o autor, porque li a crítica, li a sinopse, qualquer coisa mais intelectual. Nem sequer reparei que ganhou um prémio.
Escolhi-o pela cor. 
Acho piada refletir sobre as minhas escolhas irrefletidas. Escolhas irrefletidas que estão absolutamente condicionadas pelo que sou, pelos meus sentidos. Os meus olhos comunicam com o meu cérebro, que por sua vez envia umas ondas estranhas de satisfação sempre que traduzem esta cor. Digo "esta cor" porque tenho sempre dificuldade em perceber se é um azul esverdeado ou um verde azulado.
Julgar um livro pela capa não é necessariamente mau e enquanto me fixei no grão de pó, a cortina esvoaçante, ou o raio de sol deixei o pensamento fluir. É incrível até onde ele pode ir quando se reflete sobre uma escolha irrefletida.


Tigre Branco
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'Resumindo - nos bons velhos tempos, havia mil castas e destinos na Índia. Hoje em dia, existem apenas duas castas: os Homens de Barriga Grande e Homens de Barriga Pequena.
E apenas dois destinos: comer - ou ser comido.'

(já agora. isto pode muito bem ser um re-re-regresso)

2 comentários :

  1. Que saudades eu tinha de te ler! Caramba..que saudades mesmo! Minha Mafas <3

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