3.8.15

a experiência e a democracia


O Alcaide não frequentava a barbearia. Uma vez tinha reparado no letreiro pregado na parede: É proibido falar de política, mas tinha-lhe parecido natural. Daquela vez, no entanto, resolveu dar-lhe uma atenção especial.
- Guardiola - chamou.
O barbeiro limpou a navalha nas calças e permaneceu em suspenso.
- O que é, tenente?
- Quem te autorizou a pôr ali aquele letreiro? - perguntou o alcaide, apontando o aviso.
- A experiência - respondeu o barbeiro.
O alcaide levou um banco até ao fundo da sala e subiu nele para retirar o papel.
- Aqui só o Governo tem o direito de proibir seja o que for - disse. - Estamos numa democracia.
O barbeiro voltou ao trabalho. <Ninguém pode impedir que as pessoas expressem as suas ideias>, prosseguiu o alcaide, rasgando o aviso. Deitou os pedaços no cesto do lixo e foi lavar as mãos.
- Estás a ver, Guardiola - sentenciou o juiz Arcaido - o que te acontece por seres parvo?

Gabriel García Márquez, A Hora Má: o veneno da madrugada

1

Sem comentários :

Enviar um comentário