2.9.16

omul

fecho os olhos.
consigo sentir o cheiro quente e fumado do omul.
já só consigo sentir o cheiro quente e fumado do omul.
a consciência subtraiu-me a recordação odorífica dos corpos suados, da atmosfera abafada, do ócio.
da expectativa.
de tudo o que me invadia as narinas à entrada de um vagão de terceira classe.
o cheiro a omul estava sempre lá, nessa mescla de odores que a consciência me levou.

mas o que recordo agora de olhos fechados é um odor limpo. sem mescla.
uma recordação que me afasta do comboio e me leva às margens do lago Baikal.

abro os olhos.
cheira a sal e sol. cheira a mar mediterrâneo.
ainda não é uma recordação.
vejo-o ali ao fundo enquanto sinto uma brisa, leve e quente.
passo os lábios na pele do meu braço, sabe a sal e sol.
vou levantar-me, ouvir o estalido do portátil a fechar-se, alisar o vestido, acertar o biquini.
enquanto desço seis andares e percorro 200 metros afasto memórias. crio novas.

mergulho.

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Lago Baikal, Listvyanka
Rússia
 Diário Transmongoliano - julho, 2016

6 comentários :

  1. As fotografias estão fantásticas, parabéns!

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  2. Que lindas fotos, que lindas palavras, que lindo blog ☺️ E que viagem maravilhosa, imagino eu �� Vou querer voltar aqui! Sofia

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    1. Sofia, gosto da tua cartografia! ;)
      Voltaremos!
      beijinho

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  3. Ai, as viagens!! ♥ (adorei, tanto, tanto o texto)

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  4. Que texto delicioso! E que imagens maravilhosas, Mafalda! Viajei por momentos...

    Um beijinho

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