'Virou-se de lado no sofá, esforçando-se por recordar algo: a certa altura, quando se encontravam no chão, Tariq apoiara a testa na dela. Depois ofegara qualquer coisa, Estou a magoar-te? ou Isto está a magoar-te?
Laila não conseguia decidir qual das frases ele dissera.
Estou a magoar-te?
Isto está a magoar-te?
Só duas semanas desde que ele partira, e já começava a acontecer. O tempo embotava as pontas dessas recordações aguçadas. Laila insistiu mentalmente. O que dissera ele? De repente, parecia-lhe vital saber.
Cerrou os olhos. Concentrou-se.
Com o passar do tempo, cansar-se-ia lentamente desse exercício. Acharia cada vez mais fatigante invocar, desempoeirar, ressuscitar uma vez mais o que morrera havia muito. De facto, chegaria um dia, anos mais tarde, em que Laila deixaria de chorar a sua perda. Ou, pelo menos, não o faria tão inexoravelmente; nem pouco mais ou menos. Chegaria um dia em que os pormenores do rosto dele começariam a escapar ao punho da memória, em que ouvir na rua uma mãe chamar o filho Tariq já não a deixaria perdida. Não sentiria a falta dele como agora, em que o tormento da sua ausência era uma companhia constante, como a dor fantasma de uma amputação.
Só lá muito ocasionalmente, quando Laila fosse já uma mulher adulta, a passar uma camisa ou a empurrar os filhos num baloiço, é que algo trivial, talvez a tepidez de uma carpete sob os pés num dia quente ou a curva da testa de um estranho, desencadearia uma recordação dessa tarde juntos. E tudo lhe ocorreria de repente. A espontaneidade. A surpreendente imprudência. A inépcia. A dor do acto, o prazer, a tristeza. O calor dos seus corpos entrelaçados.
E essa memória invadi-la-ia, tirando-lhe a respiração.Mas depois passaria. O momento passaria. Deixando-a vazia, sem sentir nada excepto uma vaga inquietação.
Decidiu que ele tinha dito Estou a magoar-te?
Sim. Fora isso. Laila sentiu-se feliz por ter recordado.'
Mil Sóis Resplandecentes, Khaled Hosseini
Na travessia entre a ilha do Faial e a ilha do Pico ainda não sabia que Laila ia reencontrar Tariq.
Na travessia entre a ilha do Faial e a ilha do Pico enquanto sentia os efeitos da ondulação no meu estômago frágil, e procurava um Sol num dia nublado, relembrei a mim mesma o quanto desejo e gosto de finais felizes.
Essa coisa tão chata e convencional que é gostar de finais felizes.
Chegaram sim. Sejam bem-vindos! Também sou do género convencional de gostar de finais felizes. E não faz mal:)
ResponderEliminarUm beijo.
Mar
Não faz mesmo. nunca faz mal gostar descontraidamente (e despretensiosamente). :)
EliminarTenho de ir ai, ao meu cantinho de conforto, pôr as leituras em dia.
beijinho beijinho
Gostei tanto, viajei também um pouquinho... através da leitura, através da imagem :)
ResponderEliminarBeijinhos
que bom Cláudia! é um livro muito sofrido, mas vale sempre a pena esperar por um final feliz!
Eliminarbeijinho e um feliz fim de semana! :)
Ah e eu também adoro finais felizes!
ResponderEliminaruau, adoro as suas fotografias! Continue, está fantástico o blog!!
ResponderEliminaroh... muito obrigada Rita!
Eliminarbeijinho beijinho! :)