Estas últimas noites fui a Cabul.
Gosto da facilidade e propriedade com que o digo.
A primeira vez que fui a Cabul estava nos Açores. Lembro-me especialmente de Cabul naquela travessia entre o Faial e o Pico.
Não posso dizer que estas viagens estejam a ser serenas. Chego sempre abalada. Pensativa. Não é só o choque cultural, é o frente a frente com a crueza que nos faz humanos. Uma crueza que ultrapassa culturas e fronteiras como se à nascença nos tivesse sido gravada na pele com ferros invisíveis.
Em dezembro estive na América, mais precisamente em Newark. Na América dos anos 60. Na América de Philip Roth. Desconcertante a América de Philip Roth.
Vou voltar lá, sei disso.
Em 2014, novembro, aterrei na Islândia. Senti os ventos do norte no rosto e vi - com os meus olhos de um castanho banal - uma cortina de seda bordada com verdes e azuis impossíveis. Dançava uma valsa silenciosa num céu profundo enquanto me esfregava na cara que ainda vi tão pouco. Se algum dia tiver uma filha, chamar-se-á Aurora.
Não esperava voltar lá tão cedo, mas em Janeiro de 2015 estava de regresso. Foi uma viagem bem mais em conta e levei como bagagem o conforto do meu sofá. A Islândia da Halla e de Sigridur. Sigridur, a criança bonsai. A Islândia de Valter Hugo Mãe a escavar fundo no meu coração e a chegar ao topo da minha prateleira. Ainda bem que li A Desumanização em Janeiro, assim fica mesmo e intocavelmente no topo.
A partir daqui não consigo precisar cronologicamente. Houve Istambul e Lahore.
Houve uma Paris submissa uns anos à frente. A Paris de Michel Houllebecq. Explorei o delta do Nilo com o Gordiano de Steven Saylor, uns anos atrás.
Fiz o Expresso do Oriente com o pequeno belga de bigodes sem mácula, Hercule Poirot. Ainda não percebo como me estava a faltar este.
Caminhei pela Lisboa de Saramago com um toque de Pessoa e perdi-me nos recantos ainda mais perdidos da América do Sul. Gabriel García Marquez nunca dá as coordenadas exatas, mas desconfio que seja Colômbia. Conheci Fermina Daza, Florentino Ariza e Juvenal Urbino. Dissequei a hierarquia da família Buendía e ri com a mítica frase de um Alcaide sem nome: "Não me fodam com os papelinhos".
Corri o Japão de Comboio. Uma peregrinação com cor na companhia de Haruki Murakami. Cor soa a amor. Sputnik, meu amor.
Reencontrei Juliet Marillier. Procurarei sempre o poder encantatório das florestas da Irlanda Celta.
Mágicas. Misteriosas.
Por fim, em qualquer lugar, Gonçalo M. Tavares.
2015, agora que penso mais profundamente, foi um bom ano de viagens.
Sputnik, definitivamente a cor, talvez um pouco mais do que isso...a atmosfera...como a atmosfera do livro devagarinho se vai instalando no quarto...tenho saudades do meu sputnik...da próxima vez tem que vir comigo.
ResponderEliminar:) o meu melhor sorriso para ti.
EliminarE é isso mesmo que os livros nos fazem... Viajar para tantos lugares. Eu adoro :)
ResponderEliminarBeijinhos Mafalda ;)
Não interessa como viajamos. O importante é ir.
EliminarBeijinhos Cláudia.:)
Mafaldinha... e este texto?! Uau!
ResponderEliminarLolita! :)
ResponderEliminarGosto de ler. E gosto de ler sobre livros. E gostei muito deste texto! Reconheci-me em algumas destas viagens por tê-las partilhado também. E volto a repetir: gostei muito deste texto!
ResponderEliminarObrigada por essa repetição.
EliminarUm beijinho, Custódia.
Que texto lindo (assim como os outros <3)!!!
ResponderEliminarVocê tem goodreads ou algum lugar online que guardes os livros que lestes? :D
bjinhos do Brasil.
Vem de longe este comentário e deixou-me muito feliz. Obrigada Nathalia! :)
EliminarTenho goodreads embora só mais recentemente lhe tenha dado mais atenção, uso sobretudo para pesquisar novos livros. De qualquer maneira deixo aqui o link: https://www.goodreads.com/joseapenas
Agora fiquei entusiasmada para atualizar mais essa plataforma!
beijinho beijinho