4.8.19

dias

enganaram-me.
disseram-me que todos os dias, cada dia, são um dia em branco.
não é verdade.
o início de um dia não é branco. muito menos se parece com uma folha lisa ou com um céu sem nuvens.
cada dia novo, que não é branco, nem liso, nem limpo, começa com o peso de todos os dias que lhe antecederam.
e é por isso que envelhecemos.. são os dias a pesarem-se e a pesarem-nos.
às vezes, ou quase sempre, carregamos o peso dos dias como um fardo invisível.
outras, esse peso materializa-se, ganha forma e, ainda que seja ilusório, parece pesar mais.
por isso concordo.
deviam existir dias paralelos.
dias como imaculadas folhas brancas. limpas. lisas.
paralelos porque numa lógica estritamente matemática jamais se tocariam com os dias do dia-a-dia e por isso seriam leves e descomprometidos com o peso de todos os que o sucederam.
mas talvez também por isso, seja melhor assim. não existir dias paralelos, desmemoriados e necessariamente sem peso.
por isso seguimos com o peso dos dias, que às vezes tal como uma bela tarde de outono dão tréguas e tornam ainda mais bonito o pôr-do-sol.

enganaram-me.
mas há dias em que tudo está bem e com a luz certa.. são quase brancos.



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